Cosmeos e a Cosmética Natural

“Cosmeos“, é uma deusa da mitologia grega, deusa da harmonia e do equilíbrio, que através da sua imagem  irradia saúde e beleza interior. Ela alimentava-se dos presentes que a Natureza lhe dava. A sua beleza única era comparável às flores silvestres dos campos e poderosa como os ossos graníticos da montanha. Querendo inundar o mundo com a sua beleza grandiosa, Cosmeos deu aos mortais a benção das plantas, das flores e outros prazeres simples que nutrem a alma e o coração. 

A Deusa “Hathor”, era a deusa da beleza na cultura egípcia. Os egípcios criaram uma cultura de beleza muito forte, sendo consideradas das culturais que mais importância davam à higiene, à beleza, à imagem, à relação em equilíbrio com a Natureza. Quem não se lembra de ouvir falar que a Cleópatra se banhava em leite de burra e rosas?

A moderna palavra  “cosmética“ vem do grego “kosmeticos“ que significa “especializado em adereços“. Esta é exactamente a mensagem de Cosmeos. Nunca foi sua intenção cobrir ou mascarar. Ela usava as suas criações para revelar quem ela era realmente. Ela poderia perfeitamente ser uma criatura selvagem que corre livremente pelos bosques, acompanhada da sua irmã herbalista Artémis, cujo nome foi imortalizado numa planta.

O conceito etérico da beleza e da cosmética criou uma estranha indústria da moda, em que beleza significa manipulação ou passar fome em nome da imagética do momento e reestruturar o corpo cirurgicamente para agradar a alguém ou a um determinado estilo. Neste sentido, a beleza perdeu toda a sua intenção profunda de prazer e contentamento. E em vez disso tornou-se numa busca incansável ao inatingível. Beleza a todo custo tem sido a premissa.

O substantivo grego clássico para “beleza” era “κάλλος, kallos“ e o adjectivo para “belo” era “καλός, kalos”. Em grego “koiné “, a palavra para bonito ou belo era “ὡραῖος, hōraios”  um adjectivo que provém da palavra “ὥρα, hōra” , que significa “hora”. No grego koiné, a beleza, então, era associada a “estar na sua hora/no seu momento”. Assim, um fruto maduro (em seu tempo) era considerado bonito, enquanto uma jovem mulher que tenta parecer mais velha ou uma mulher mais velha tentando parecer mais jovem não seria considerado bonito. Em grego ático, hōraios teve muitos significados, incluindo “jovem” e “idade madura”.

Nos dias que correm, e devido às consequências ambientais, saber fazer os próprios produtos de cosmética e para o lar de uma forma mais simples e orgânica, é estar a cuidar de nós, é estar a cuidar da Terra. O teu corpo agradece e o planeta também.

Como me iniciei no mundo da Cosmética Natural?

O mundo da cosmética natural e do encantamento pelas plantas, cruzou-se comigo quando decidi mudar para um estilo de vida mais simples, de acordo com os ciclos/ bioritmos da Natureza. Fazer produtos de cosmética natural surgiu pelo facto de viver num lugar onde se praticava agricultura natural com uma gestão sustentável de todos os recursos e aqueles que mais importância tinham para a cosmética eram a água, o solo, os alimentos. Como queríamos ser autónomos precisávamos também de criar autonomia nos produtos que usávamos no corpo e para a limpeza. 

Cultivávamos parte do que comíamos, reconstruíamos as nossas casas, íamos à fonte buscar água para beber. Anos passaram e fui-me interessando cada vez mais. Após muita tentativa e erro, consegui chegar a um lugar onde cozinhar ingredientes para a pele e para o lar, era um autêntico processo de magia, alquimia e cura, fazendo parte do meu dia a dia. A minha vida mudou para melhor a partir do momento em que o meu corpo e os espaços onde habitava começaram a receber a linguagem das plantas e da simplicidade, a partir do meu potencial criador. A saúde natural, o amor e a abundância estavam permanentemente presentes no meu dia a dia e a partir de certo momento decidi que queria partilhar isso com o resto do mundo.

As receitas que partilho nos cursos e workshops que facilito são todas receitas recriadas e algumas criadas originalmente por mim.

“Sou uma estudante apenas não uma aluna. Como ser humano uma vez que não me posso fotossintetizar, posso participar arduamente na Colheita Honrosa. Então eu rendo-me, eu vergo-me, eu escuto perante aqueles que são mais sábios que eu. O que eu partilho aqui, é o mesmo que eles partilham comigo, as sementes lançadas em campos de vasta sabedoria, a mais profunda camada, o musgo da montanha que pertence ao conhecimento. Sinto-me grata pelos seus ensinamentos e responsável por passá-los da melhor forma que posso”.

– por Robin Wall Kimmerer em Braiding Sweetgrass (traduzido e adaptado por mim)