Respigar.
Nos tempos modernos, com um pouco de bom senso e atenção, respigar é uma maneira de levar alimentos nutritivos para nossa casa sem nenhum custo. Há muita comida para todos, há suficiente para todos e sabemos que é a má gestão e o desequilíbrio material que faz com que pareça que não há suficiente para todos.
Já deves ter ouvido falar sobre a palavra “respigar”. Respigar significa reunir pouco a pouco objectos ou alimentos que alguém vê como sem uso ou “lixo”. Mas também tem um significado histórico de reunir os restos de produtos após a colheita. Nas cidades, há imensos alimentos e comida em óptimo estado a serem desperdiçados, e o “dumpster diving” ou “freeganismo”, é uma forma de respigar que consiste basicamente em recolher nos caixotes de lixo dos supermercados e mercearias (preferencialmente orgânicas se possível). Foi nos Estados Unidos que este movimento nasceu e estendeu-se a vários países do mundo. Quando regressei da América do Sul, já tinha ouvido falar do “dumpster diving” e quando voltei a Lisboa foi quando comecei a respigar comida no lixo, restaurantes e pastelarias. Pouco tempo depois comecei a ser voluntária na Fruta Feia, e fui-me dando conta da quantidade de alimento desperdiçado e do preconceito que existe “em comer comida do lixo” – que não é lixo e em comer “fruta ou alimentos feios”.
Quando vim viver para o campo, já não senti tanta necessidade de fazer “dumpster diving” pois dei-me conta da enorme quantidade de fruta caída no chão – embora seja muito importante deixarmos parte dela no chão, porque assim é o ciclo natural da frutificação, ser casa e alimento para animais que não conseguem alcançar as árvores para se alimentarem ou abrigarem.
Em Portugal, felizmente não há leis rigorosas sobre colher a abundância de alimento proveniente de árvores ou arbustos mas é importante saber que o ideal é respigar sempre em áreas públicas, relativamente longe de estradas – por causa da acumulação de metais pesados e da aplicação de pesticidas e herbicidas, e onde sabemos que a área é livre de químicos. Se nos dermos conta da abundância de alimento abandonado em propriedade privada, podemos sempre tentar encontrar os donos para pedir essa fruta para recolher e em alguns casos até lhes estamos a fazer um favor e quem sabe podemos ficar a conhecer melhor os nossos vizinhos? Também pode ser interessante fazer uma troca com eles!
Do meu ponto de vista aproveitar parte dos alimentos que vemos no chão ou em árvores abandonadas, é uma troca justa. Tal como a recolha de plantas, vejo que o ideal é colhermos entre 30 a 40% daquilo que vemos para deixarmos o restante para animais ou outras pessoas.
Podes respigar sozinha/o, com os amigos ou família, e pode ser bem divertido!
E respigar na natureza nas diferentes estações do ano, permite-nos conectar muito mais com o ritmo natural da Terra!
Não ao desperdício!